Mães de autistas relatam limitações com ensino remoto
Por Natali Alves
Um dos principais impactados com o ensino remoto foram os pais de crianças em idade escolar, especialmente de autistas. Os familiares não possuem conhecimentos e meios adequados para realizar a aprendizagem dos filhos. O ensino em casa, porém, pode trazer algumas vantagens para a criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que tem dificuldade no convívio social.
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Derik, de 8 anos, é autista nível leve e o novo formato de ensino trouxe pontos significativamente positivos para a sua educação. Segundo sua mãe, Erika Moraes, o estudo em casa permitiu que reconhecesse as cores e os números, habilidades não adquiridas no ensino presencial. Mas essa não é a realidade de muitos autistas e seus pais.
Felipe, de 7 anos, é autista do nível leve ao moderado. “O ensino remoto está sendo um desafio. O formato on-line não prende a atenção dele nem por um instante”, revela sua mãe, Jocelene Ribeiro. O maior problema está na concentração da criança, dificultada pelas telas do notebook. Jocelene ainda ouve constantemente do filho que ela é mãe e não professora.
As telas do notebook também são um problema para prender a atenção de Derik. As suas novas habilidades foram desenvolvidas por conta de atividades visuais. A escola envia sugestões de atividades que normalmente não são pensadas para as crianças com TEA, de acordo com Erika. É a própria mãe que desenvolve algumas tarefas em casa de acordo com as limitações do filho.

Os professores devem ter preparação e conhecimento para trabalhar com alunos autistas, independentemente se o ensino é remoto ou presencial. Quando isso não acontece, a criança tem muita dificuldade para aprender o conteúdo ensinado. “O professor precisa conhecer o transtorno e como essa criança aprende. Os alunos com TEA aprendem de maneira diferente, se não, não há ganho na educação”, explica a doutora em Psicologia Social, Cibele Ramos.
As atividades visuais são essenciais. Segundo Ramos, elas prendem a atenção das crianças autistas. Foi assim que Derik conseguiu reconhecer as cores e números, com as tarefas visuais desenvolvidas pela mãe, Erika. Já Felipe não pode contar a atenção irrestrita de Jocelene, que tem mais dois filhos.
A parceria entre professores e pais é um dos fatores responsáveis pelo atraso ou avanço da criança autista, segundo Cibele Ramos. Alunos com autismo leve, como Derik, têm maior facilidade no momento de aprendizagem. Aqueles com níveis moderados, como Felipe, demandam maior atenção e dedicação para se desenvolverem. Ainda assim, a alfabetização precisa ser papel de um profissional especializado, que entenda o aluno com TEA e suas necessidades.