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SEGUNDO MAIS RACISTA: Rondônia registra aumento de 41% dos casos

Mais de 92 denúncias de racismo e 242 notificações de injúria racial foram registradas no estado em 2022

Por Emily Costa

Rondônia está entre os estados com maiores índices de práticas racistas do Brasil. O número de denúncias de racismo teve um aumento significativo de 41% em 2022, de acordo com dados de 2023 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Foram registradas cerca de 92 denúncias de racismo. As ocorrências ultrapassam as do ano anterior, quando foram feitas 65 denúncias em Rondônia. A taxa desses casos no estado foi de 5,8, representando a segunda maior do país, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul.

Viver como uma vítima constante de racismo é desafiador e muitas vezes esmagador. Todos os dias, diversas pessoas enfrentam discriminação, preconceito e vivem estereótipos baseados na cor da pele, como é o caso de Natalice Miranda, de 64 anos.

Eu só quero ser tratada com respeito e igualdade, assim como qualquer outra pessoa. É importante que a sociedade reconheça que existe o racismo e trabalhe para combater isso, para que todos possamos viver em um mundo mais justo e inclusivo, explica a senhora.

Os dados apontam ainda que os registros de injúria racial também subiram, com 242 denúncias feitas, em comparação com as 220 ocorrências de 2021, representando um aumento de 9%. Embora o crescimento em termos percentuais seja menor, em números absolutos os casos de injúria racial superam os de racismo.

Mateus Ferreira, de 26 anos, nascido em Rondônia, relata que, em um certo dia, ao entrar em uma loja, começou a ser seguido por uma vendedora. Ele foi questionado se tinha a intenção de fazer uma compra ou se planejava “roubar” algo.

Ele notou que, ao mesmo tempo, um jovem branco entrou no estabelecimento e não foi abordado da mesma forma. A vendedora o tratou com educação, perguntando se ele precisava de ajuda. Foi nesse momento que Mateus percebeu que estava enfrentando uma situação de discriminação racial.

O racismo e a injúria racial embora sejam crimes diferentes, são igualmente graves, de acordo com a professora e doutora, Rosângela Hilário. A injúria racial está relacionada a ofensas direcionadas a uma única pessoa com base em sua cor, com o objetivo de desqualificá-la. Já o racismo é uma transgressão mais grave que engloba discriminação contra um grupo étnico, afetando uma coletividade.

Práticas racistas aumentam em Rondônia. Fonte: Emily Costa

A doutora ressalta que os casos de racismo estão aumentando porque existem mais registros. O crescimento gradativo está relacionado com a iniciativa das pessoas de denunciarem esses crimes. Ainda assim, a tendência é não diminuir, devido à ausência de políticas públicas, como a inclusão de educação sobre questões raciais nas escolas públicas.

“O letramento racial é essencial para que as pessoas compreendam a miscigenação do país”, explica a pesquisadora.

“O RACISMO É COMUM”

A cultura de racismo estrutural é abrangente e engloba diversas práticas racistas, mas há algumas que se tornam mais comuns no país. O racismo religioso, por exemplo, envolve a desqualificação e o desrespeito às pessoas que praticam religiões de origem africana.

Quase todos os dias eu sofro algum tipo de discriminação, é até comum para mim. Acho que acontece com tanta frequência que isso se torna normal, mas não deveria, né? Eu só deixo acontecer, é errado, mas foi a forma como eu aprendi a lidar com isso”, conta Mateus Oliveira, assistente administrativo.

Discriminação com base na aparência, cor da pele ou origem é crime. Fonte: Emily Costa

Além disso, a linguagem frequentemente usada perpetua estereótipos e discursos negativos relacionados às pessoas de pele negra. Nas escolas, a discriminação pode ser evidenciada quando crianças negras são excluídas e alvo de piadas por seus colegas. No cotidiano, o racismo está em palavras, gestos e olhares julgadores, segundo Rosângela Hilário.

NÃO-ACEITAÇÃO E CONSEQUÊNCIAS DO RACISMO NOS NEGROS

O racismo está relacionado com a falta de aceitação que as pessoas possuem sobre os negros na sociedade, de acordo com o psicólogo e professor Jairo Maia.

Nós (negros) precisamos ignorá-lo (o racismo) para conseguir sobreviver na sociedade. Mas infelizmente isso recai sobre mim e eu acabo ignorando minha existência também, explica Mateus Oliveira.

O fenômeno impacta diretamente as vítimas, comprometendo sua autoaceitação e autoestima. Em casos mais graves de violência racista, as vítimas podem desenvolver comportamentos autodestrutivos, como automutilação, autorejeição e, em situações extremas, até mesmo o suicídio.

Os principais sinais que uma pessoa negra pode estar precisando de apoio psicológico devido à experiência de violência racial são: baixa autoestima; isolamento; mudança de comportamento; falas negativas ou pejorativas sobre suas características físicas (cabelo, cor da pele e corpo).

Práticas racistas impactam diretamente as vítimas e comprometem a autoaceitação e autoestima do negro. Fonte: Emily Costa

As vítimas desse tipo de violência precisam passar por um processo de aceitação e reconhecimento da sua trajetória e sobre si. A ressignificação da sua identidade é fundamental para que seja possível tornar visível para essas pessoas que o corpo delas não está relacionado a algo negativo.

“Estamos falando de uma abordagem da psicologia que seja ética e compromissada no combate a esses tipos de violência. É um processo de acolhimento e de respeito à dor do outro”, explica o psicólogo e professor Jairo Maia.

RACISMO É CRIME, DENUNCIE!

O racismo é um tipo de violência comum na sociedade, principalmente por ser praticado na frente de outras pessoas, de acordo com o presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, Fábio Roberto. Para coibir este crime, é necessário uma não passividade de todo mundo que presencia algum ato racista, não apenas da vítima.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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