Time feminino de futebol americano não tem visibilidade e adesão em Rondônia
Esporte e mulheres seguem na caminhada para a visibilidade em Rondônia
por Fabiany Araújo e Izabela Muniz
Se um time masculino, que normalmente domina os espaços de um esporte tanto no Brasil como no mundo todo, enfrenta dificuldades e empecilhos para uma estruturação de um esporte relativamente novo no país, como o time feminino de futebol americano sobrevive nessa realidade em Porto Velho? A precarização é algo presente, aliada à desvalorização de jogadoras e à invisibilidade do esporte.
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Os times femininos são mais desvalorizados até no futebol de origem britânica, um esporte culturalmente conhecido e adorado pelos brasileiros. O menosprezo do futebol americano feminino não é de surpreender. Apesar de ser um esporte novo na região e com pouca adesão até mesmo no time masculino, os homem ainda ganham possibilidades e oportunidades de se estruturar e jogar.
Já o time feminino não tem a chance sequer de se construir, a falta de visibilidade torna quase impossível a formação de uma equipe. As mulheres e a população na região não conhecem ou não sabem que é possível que elas joguem futebol americano.
Mesmo disputando o campeonato brasileiro de futebol feminino da série A, as atletas de uma equipe feminino de Rondônia tiveram seus salários atrasados por meses. Uma condição que nunca deveria acontecer com nenhum atleta. Segundo Nayra Quaresma, ex-jogadora do Real Ariquemes, o descaso que houve com elas e suas companheiras de time nunca teve uma explicação exata.
A gente ficou bastante preocupada, porque tínhamos contas pra pagar. Algumas ajudam a família. Acho que o clube não estava preparado para jogar a elite do futebol feminino, então acabou que ficamos sem receber até hoje”, contou.
POR QUE O ESPORTE FEMININO É INVISIBILIZADO?
Para entender esses acontecimentos, é preciso contextualizar que as lutas por ambientes justos e acessíveis estão para além do esporte na vida das mulheres. A precarização do esporte feminino não é uma novidade, e isso ocasiona ainda mais a evasão de atletas e amantes do esporte.
A integrante do grupo de pesquisas Grupo de estudos e pesquisas em geografia, mulher e relações sociais de gênero (GEPGÊNERO), Ziley Alves, afirma que o machismo é um causador desses atrasos e dificuldades na vida das mulheres que querem ir por um caminho esportivo ou outro campo que é predominado pelos homens.
A invisibilização das mulheres no esporte devido à muito machismo dos homens de achar que as mulheres não tem capacidade, essa invisibilidade já foi bem maior, mas ainda continua grande a luta pela visibilidade das mulheres, graças a grupos que lutaram e continua lutando as mulheres vêm conquistando os seus espaços”, explicou.

A luta continua fora e dentro do campo e é bastante evidente que o descaso com o esporte feminino segue em todas as modalidades. Elas aparecem no âmbito das jogadoras e até mesma da diretoria, pois há sempre uma barreira e preconceito contra a mulher.
Izabelle Ravaiane, uma couch ofensiva de futebol americano, relata que na sua história com o esporte existiram muitas questões com o machismo, ainda mais quando estava em uma posição de liderança. Ela atualmente é a couch ofensiva do Sorriso Hornets, equipe do Mato Grosso, e passou por Rondônia em um dos jogos pela LBFA.
Estou na LBFA há 7 anos, passei por alguns times e existiram situações chatas por ser uma mulher envolvida nos treinamentos de futebol americano, casos de preconceito; já fui descredibilizada”, revelou.

MULHERES NO FUTEBOL AMERICANO
O primeiro time de futebol americano criado no Brasil foi em 1991, uma equipe masculina. Embora não tenha demorado tanto como nos Estado Unidos, a primeira equipe feminina brasileira foi fundada em 2003. Isso aconteceu depois que Tatiana Sabino, uma jogadora que treinava com a equipe masculina, foi vetada de participar de um campeonato junto com seu time, por ser a única mulher. Assim foi criada a Saquarema Big Riders, a primeira campeã carioca, em 2005.
Outros times femininos começaram a surgir no país, como Brasília Pilots e Flamengo Imperatrizes, que atualmente estão na Liga Brasileira de Futebol Americano (LBFA). A seleção brasileira feminina de futebol americano também foi criado, a Brasil Onças. É a primeira equipe da história do esporte no Brasil que participa de amistosos e que tem chances de jogar a Copa do Mundo de futebol americano feminino.
ESPORTE DE CONTATO EM RONDÔNIA
Apesar de ter um time masculino em Porto Velho, a possibilidade de ser construído um time feminino é baixa. A falta de visibilidade e engajamento que existe no futebol americano feminino é um dos fatores que auxiliam no retardamento da criação de uma equipe local. Os empecilhos sociais que as mulheres enfrentam nos esportes desanimam ainda mais o público feminino no envolvimento desse universo.
Mesmo que o futebol americano feminino ainda não tenha sido instaurado, existem outras modalidades no estado similares que seguem um esporte de contato, como o rugby. O esporte que inspirou a criação do futebol americano tem a equipe feminina Candirú. Embora também sofram com preconceito e invisibilidade, as jogadoras seguem na luta por seus espaços no esporte rondoniense e inspiram o surgimento de novos times femininos para esporte de contato no estado.
