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ATLETISMO EM RONDÔNIA: experiência leva atletas para competições nacionais e internacionais

Atletas com boas marcas em competições estaduais conquistam direito a viagens, porém existem desafios

Por Juliana Garcez

O atletismo é uma prática pouco falada na cena esportiva de Rondônia. Mas, de 2013 até 2023, o esporte fez parte da realidade de muitas crianças e adolescentes que participaram das competições regionais e que chegaram até mesmo a viajar para campeonatos nacionais e internacionais. Entre as modalidades, estão competições de salto, arremesso e corrida, com variadas subdivisões.

Como não exige materiais e equipamentos de alto custo, o esporte permite a participação de muitas pessoas, promovendo a integração de jovens, além de permitir a descoberta de novos talentos. Os atletas devidamente qualificados e com bons índices têm garantido seu direito de representar o próprio estado e até mesmo o Brasil nos Campeonatos Sul-americanos de Atletismo.

Os rondonienses se destacam nas competições nacionais e estaduais. Guilherme de Freitas, de 23 anos, começou a competir pelo atletismo aos 15. Na época, viajou para representar a própria escola durante a fase estadual dos Jogos Escolares de Rondônia (JOER), realizado em cidades de Rondônia.

“Também participei de competições interclubes que ocorreram em Cuiabá. Minha melhor experiência foi representar meu estado nos Jogos Internos do IFRO, o JIF. A fase nacional, em que conquistei o 2º lugar no salto em altura, ocorreu em Fortaleza, no Ceará. Fiz várias outras viagens fora e dentro do estado de Rondônia”, relatou Guilherme.

Fonte: Juliana Garcez

A atleta Mirely Moreira, de 15 anos, passou a competir há dois e já conquistou a oportunidade de representar Rondônia nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), na modalidade de lançamento de dardo. A lançadora também viajou para os Jogos da Juventude em Ribeirão Preto, em São Paulo.

É uma experiência incrível, tive a chance de representar Rondônia junto com os melhores atletas do estado”, comentou Mirely.

O atletismo mudou os rumos de vida de Guilherme. “Por causa do atletismo me formei em Educação Física e trabalho com esse esporte até hoje. Também treino para participar de competições”, revela. Atualmente com 23 anos, ele trabalha no Projeto Esporte Base Saúde que oferece diferentes modalidades esportivas para crianças, adolescentes e jovens. Uma delas é o atletismo.

Por ser um esporte inclusivo, o atletismo permite a participação de pessoas de todas as idades. Segundo Mirely, no entanto, o número de atletas é baixo na cena rondoniense. A experiência de participar das competições é relativamente boa, para a arremessadora. “Depende da competição, fora do estado as competições são ótimas, dentro do estado é mais complicado pois falta organização”, explicou.

O atletismo também é categorizado oficialmente por faixa etária, com categorias como Sub-14, para atletas com 12 e 13 anos; Sub-16, para atletas com 14 e 15 anos; Sub-18, para atletas com 16 e 17 anos; Sub-20, para atletas com 16, 17, 18 e 19 anos; e Sub-23, para atletas com 16, 17, 18, 19, 20, 21 e 22 anos. Na categoria de adultos, enquadram-se atletas a partir dos 16 anos. Há ainda a categoria de masters, que inclui pessoas a partir dos 35 anos.

Os principais desafios para os atletas são a ausência de um local com pista e a falta de equipamentos adequados para a realização das competições de atletismo em Porto Velho. Os campeonatos são realizados há anos na escola Marcelo Cândia, na zona leste da capital.

Rondônia possui quatro pistas oficiais de atletismo, localizadas em Ariquemes, no estádio Gentil Valério, em Cacoal, no Complexo Desportivo do Batalhão Tiradentes, em Ji-Paraná e uma em Porto Velho, segundo levantamento realizado pela CBAt em 2021. A pista oficial cadastrada em Porto Velho localiza-se na Praça de Esportes da Base Aérea. Nenhuma dessas pistas, no entanto, é utilizada para a realização das competições. O ex-presidente da FARO, Walter Brasil, afirmou que a única pista de 400M que Porto Velho tinha em 2004 deixou de ter essa medida.

ATLETAS NÃO RECEBEM APOIO DA FEDERAÇÃO

A conquista por boas marcas é um desafio quando não há apoio efetivo de instituições envolvidas com o esporte. A organização responsável pela promoção das competições no estado é a Federação de Atletismo de Rondônia (FARO), afiliada da Confederação Brasileira de Atletismo. A atuação da Federação, no entanto, é constantemente alvo de críticas, principalmente por parte dos atletas.

Walter Brasil, ex-presidente da FARO, comenta que é importante compreender o funcionamento da Federação. “Uma federação é formada por clubes a ela filiados, e estes clubes teriam que pagar uma mensalidade e inscrições em competições dos atletas e das equipes, de acordo com o orçamento apresentado pela federação”, descreveu.

Guilherme de Freitas comenta que a nova gestão da FARO ainda está se organizando, porém, o atleta acredita que deveria haver maior comprometimento com o atletismo rondoniense. “A organização administrativa que ainda não está bem consolidada. Infelizmente o atletismo rondoniense se concentra na capital deixando outras cidades menos participativas”, pontuou.

“Aqui em Rondônia não há clubes fortes, então cada um se vira como pode. Os atletas normalmente se bancam pedindo favores à prefeitura ou patrocínios, ajudas eventuais. Foram poucos os atletas que tiveram patrocínios efetivos durante sua passagem no atletismo”, comentou Walter Brasil. Além destes empecilhos, outro problema que afeta a Federação é a ausência de recursos financeiros. As poucas federações que se dão melhor em Porto Velho envolvem o futebol.

Nas competições regionais, nacionais e internacionais, não houve o fornecimento de auxílios financeiros para os participantes em vulnerabilidade econômica, nem mesmo de alimentação. “A gestão atual por algum motivo não realizou nenhum desses feitos, ficando na somente na promessa, tenho me comunicado bastante com o presidente referente a esse tipo de auxílio aos atletas”, comentou Guilherme. Já Mirely Moreira comenta que até a alimentação é por conta dos atletas, mesmo nas competições.

Na época em que foi competidor e representou o estado, Guilherme afirmou que a Federação também não promoveu nenhum projeto de incentivo ou permanência para crianças e adolescentes. Isso representa uma fragilidade organizacional que atrapalha a descoberta de novos talentos do Atletismo e interfere na aderência de novos competidores.

A jornada ao exterior, proporcionada por meio do atletismo, começa nos pequenos passos dados pelas federações em cada estado, inclusive em Rondônia, seguindo a ordem de competições estaduais e, posteriormente, nacionais. Em 2023, no entanto, o número de participantes tem sido menor que o dos anos anteriores, com exceção do período pandêmico, que prejudicou a continuidade das competições, segundo os organizadores das equipes.

Rondônia contou com a participação de atletas em competições como o ISF U15 Gymnasiade, um torneio esportivo mundial que reúne atletas de todo o mundo, e que em 2023 foi realizado no Rio de Janeiro. Lara Francioli, de Cacoal, ficou em 10º lugar nos 100M, ou seja, por meio do atletismo, a rondoniense tornou-se a décima melhor do mundo em sua categoria aos 14 anos.

MELHORIAS NECESSÁRIAS

A ausência da criação de projetos de incentivo se deve em maior parte à falta de recursos financeiros disponíveis. Os valores adquiridos eram geralmente utilizados para a compra de passagens ou recursos alimentícios para os atletas.

“Nas competições locais, a Federação trocava o investimento de uma ida ou uma volta do ônibus que buscava e levava os atletas e árbitros, para direcionar as despesas para a compra de gêneros alimentícios e gás, para que fosse possível servir o café e o almoço para os atletas no colégio Marcelo Cândia. Fizemos isso por um bom tempo”, abordou o ex-presidente da FARO.

Fonte: FAROA lançadora Mirely Moreira também enfatiza a necessidade de melhorias e apoio por parte da FARO. “Na minha opinião, eles devem melhorar em vários aspectos. Ter mais árbitros nas competições, ajudar no transporte para o deslocamento para a competição, financiar viagens como faziam antes, manutenção dos materiais, melhorar a premiação e o setor de lançamento de dardo”, enfatizou.

Na busca por informações oficiais, o Governo do Estado de Rondônia, por meio da Superintendência da Juventude, Cultura, Esporte e Lazer (SEJUCEL), foi contatado, mas não concedeu nenhuma resposta até o fechamento desta matéria, em relação à sua atuação no atletismo, vínculos com a Federação, criação de projetos de incentivo ou apoio ao atletismo.

Nunca houve parcerias com a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC), pois o enfoque dela é voltado para o desporto escolar e o JOER, segundo o ex-presidente da FARO. “Com a SEJUCEL tivemos alguns convênios fornecidos a dois paratletas, e com passagens também. Atualmente as regras tornaram mais difícil a aquisição de passagens para atletas”, observou.

A Federação anteriormente promovia cursos de arbitragem e técnica, mas até essa oferta foi interrompida. “Parcerias com universidades também são relevantes, pois é de onde surgem técnicos interessados na modalidade. Minha experiência como acadêmico de educação física na disciplina de Atletismo foi bastante vaga”, afirmou Guilherme.

Mesmo sendo obrigação da Federação fazer a seleção em competições nacionais ou regionais, era difícil para oferecer algo mais para os atletas, de acordo com Walter Brasil. “Ou conseguíamos as passagens pelo estado para eles irem, ou a gente economizava do repasse baixo que a Confederação nos passava, que hoje continua em cerca de 4 mil reais por mês. Então, não havia como ajudarmos os atletas. Quando conseguíamos, os valores eram pequenos. Se a gente consegue uma passagem pela federação, o dinheiro fica bem menor para os atletas”, revelou.

Outros pontos negativos no cenário também foram citados, como a diminuição no interesse dos jovens pelo atletismo. “Por não haver um ensino adequado de educação física nas escolas, já não há como atrair novos talentos para o atletismo. O atletismo na capital sobrevive através de pessoas que gostam de atletismo e bancam com o próprio dinheiro os atletas”, comentou o ex-presidente da Federação. Walter também ressaltou a ausência de locais adequados para a realização das competições e a falta de incentivo municipal e estadual no esporte, principalmente no atletismo.

Apesar dos empecilhos, o atletismo é um esporte que viabiliza ao competidor experiências dentro e fora de seu estado, promovendo integração, saúde e diversão entre os participantes. Qualquer pessoa pode se cadastrar como atleta por meio do site da CBAt, que disponibiliza um formulário gratuito. Os formulários devem ser impressos, assinados e enviados à Federação, que enviará à sede da CBAt, para que seja feito o cadastro.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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