Natal: feriado cristão alcança ateus e adeptos de outras crenças
por Victória Ferreira e Wesley Tavares
O dia 25 de dezembro é uma das datas mais esperadas do ano no Brasil, até por quem não pratica ou acredita no cristianismo. Pessoas de outras crenças, além de agnósticos e ateus celebram a data. Embora não comemorem para celebrar o nascimento de Jesus, como os cristãos, alguns aproveitam o momento para se reunir com os familiares e manter a tradição da troca de presentes. Outros dispensam, além das tradições religiosas, as decorações e jingles próprios da época, mas ainda assim conseguem celebrar a seu modo.
+ Tradição festiva do natal existe antes de nascimento de Jesus
Kellen Melo é membro da Brasil Soka Gakkai Internacional (BSGI), associação budista que tem como objetivo a valorização da vida e o desenvolvimento humano em prol da construção de uma cultura de paz. Para tanto, busca contribuir com ações conscientes que promovam o potencial humano, proporcionando a plenitude de cada indivíduo e abolindo qualquer tipo de discriminação. A Soka Gakkai Internacional (SGI) foi constituída em 1960 por Daisaku Ikeda. A BSGI é a representante SGI, em terras brasileiras. O objetivo institucional da SGI é a difusão da filosofia humanística de Nichiren Daishonin, cuja diretriz básica é felicidade plena de toda humanidade. Por meio da construção de uma cultura de paz, promove atividades visando à criação de valores humanos conscientes da importância de contribuírem, como missão pessoal, para o bem-estar das pessoas.
Kellen Melo é praticante do budismo há 7 anos e conta que é indiferente em relação ao natal. Mesmo assim, muitos membros do budismo comemoram a data com as suas famílias e fazem até o tradicional amigo secreto.
“Quem não gosta de ganhar presentes, não é mesmo?”, brincou Kellen, que comemora o natal com a família do seu marido. “No ano passado comemorei com eles, tinha quem bebia cerveja, quem bebia vinho, quem não bebia nada. Ninguém rezou antes de comer, só atacaram a comida, mas antes cada um foi à sua igreja”, relatou Kellen.
Thales Pimenta, professor na Universidade Federal e Rondônia (UNIR), é judeu e conta que vê o natal como um evento social. O docente celebra apenas porque gosta da confraternização com os amigos e familiares. “Eu comemoro o natal há muitos anos porque há familiares e amigos que não são judeus”, explicou. Além do natal, Thales comemora a tradicional festa judaica, o hanuká. A celebração é voltada para as crianças, elas recebem muitos presentes, cantam músicas, comem doces e brincam.
O hanuká é comemorado no mês judaico de kislev, por volta de dezembro. Ao todo, são oito dias de festa, durante o Festival das Luzes ou, em hebraico, hag urim. Toda noite é acesa uma vela da hanukiá, um candelabro especial com nove suportes colocados na frente da janela. Quando as velas são acesas, as famílias fazem bênçãos e cantam canções típicas de hanuká. Em 2017, as velas da hanukiá foram acesas entre os dias 9 e 16 de dezembro.
Ahmed Gade é muçulmano e também comemora o natal com a família, que é composta por cristãos. “Acho normal, eu sempre me reúno com minha família e passamos juntos”, contou. Uma data muito importante para Ahmed é o ramadã, que é o nono mês do calendário muçulmano. Durante o período, “os muçulmanos praticam o jejum obrigatório para todos”, explicou. O jejum de ramadã é importante por se tratar de um tempo especial em que os muçulmanos se reúnem em oração. O período é considerado uma oportunidade especial para reviver, renovar e revigorar sua prática de fé. Segundo Ahmed, o próximo ramadã acontecerá entre os dias 6 de maio a 3 de junho de 2019.
Luciano de Sampaio, professor na UNIR, é ateu e conta que o natal não significa muita coisa para ele, além de não gostar da cozinha natalina. Mesmo ficar sozinho no natal não é um problema para o docente.
“É o primeiro natal que vou passar aqui em Vilhena, então, não tenho planos. Provavelmente, vou passar assistindo à Netflix com meus gatos. Até ano passado, eu fazia a “maratona de natal” de quem tem pais separados, duas ceias, dois amigos secretos, hora para sair de um dos lugares, hora para chegar e excesso de gente com quem eu não convivo de fato querendo saber da minha vida”, revelou Luciano.
Já Eduardo Boniatti, também adepto do ateísmo, não comemora o natal com um sentido religioso, mas entende a data como uma reunião de família. “Fazemos uma janta, trocamos presentes, tiramos fotos. E depois cada um vai para um canto. Meus tios para casa do sogro e sogra. Porque é todo mundo casado na família”, disse. Além do natal familiar, Eduardo encontra ainda os amigos para esticar a comemoração, mesmo que façam atividades do cotidiano, como tomar um tereré. “Eu saio com meus amigos. Ou vou dormir. Mas, geralmente, saio com o pessoal que não bebe, então nós saímos para dar umas voltas apenas. E tomar um tereré, como sempre. É que, assim, sair para tomar um tereré no fim de semana ou num feriado é normal. E nós só continuamos a agir normalmente”, contou.

