Dor na coluna: a principal causa de afastamento de trabalho
por Daiana Silva e Élida Furtado
A dor nas costas é a doença que mais afastou trabalhadores em 2017, com aproximadamente 83 mil casos no Brasil. A doença tem liderado o ranking de afastamento nos últimos 10 anos e o futuro não é animador. 80% das pessoas terão dores nas costas ao longo da vida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hábitos cotidianos, tabagismo, obesidade, sedentarismo, histórico familiar e posturas incorretas estão entres as principais causas da doença.
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A coluna e as costas estão interligadas, mas não compreendem o mesmo problema. A coluna vertebral corresponde à parte óssea, com doenças como: osteofitose, estenose do canal vertebral, espondilose, artrose e hérnias de disco. Os problemas nas costas geralmente são associados aos músculos ou aos outros órgãos do corpo.
As dores nas costas podem sinalizar sobrecarga, cansaço físico e outros fatores que em longo prazo afetarão a coluna. A maior incidência de problemas na coluna é em trabalhadores rurais. Os trabalhos repetitivos e o manuseio de ferramentas por muito tempo, a longo prazo, provocam lesões na coluna. Zilda Pereira, de 62 anos, começou a trabalhar muito jovem na lavoura com seus pais.
Os primeiros sintomas eram ignorados, sempre atribuídas ao cansaço. Para criar os filhos, precisou trabalhar de empregada doméstica. Foram quase de 30 anos pegando balde, torcendo pano, subindo escadas e lavando roupas. A necessidade para criar os filhos a levou para uma dupla jornada de trabalho.
As dores nas costas ao final do dia eram inevitáveis, pelo esforço e pelos movimentos repetitivos. Aos 58 anos, as dores se intensificaram a ponto de não poder se levantar da cama. Afastada do trabalho, Zilda saiu para tratamento. Foi diagnosticada com duas hérnias de disco, espondilose, osteofitose, artrite, problemas na região sacral e osteoporose.
Qualquer movimento brusco causa dores intensas em quem sofre com problemas na coluna. Zilda conta que já precisou ficar de cama o dia todo por ter varrido a casa. “Depois, eu não estava me aguentando de dor, tive que ficar deitada, parecia que tinham enfiado uma faca nas minhas costas”, disse.
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Hoje, aos 62 anos, não pode limpar a casa e nem mesmo levantar um balde. “Os médicos me disseram que devo conviver com a dor. Não consigo ficar em uma única posição por muito tempo. Hoje, dependo dos outros para tudo”, lamentou a mulher. Os exercícios físicos ajudam a amenizar as dores na coluna. Zilda faz hidroterapia duas vezes na semana. Os remédios também são necessários para aliviar o desconforto.
O tratamento adequado pode proporcionar melhor qualidade de vida para as pessoas que sofrem da coluna e que querem voltar a trabalhar. Sem tratamento, outros problemas podem ser desencadeados, como transtornos depressivos e o processo degenerativo.
A coluna vertebral é a sustentação do corpo, doenças nessa região demoram a dar sinais específicos. A longo prazo, os maus hábitos de postura e outros fatores vão se manifestar como um pequeno incômodo ou, mais grave, como uma doença crônica.

Marcia Ribeiro, de 37 anos, também está afastada do trabalho com problemas na coluna. Ela foi diagnosticada com hérnia de disco. Antes do afastamento definitivo do trabalho, Márcia ficava apenas com atestado temporário. As dores intensas a impedem de realizar as suas tarefas do dia a dia. “Um dia chutei o degrau da escada sem querer, pronto, já comecei a sentir muita dor nas costas”, revelou.
Márcia usa o termo “travar” para especificar essas dores intensas. “Eu estou aqui, de repente, travo. Dá aquela dor forte e perco o movimento nas pernas, posso até cair. A dor é tanta que caio e você nem pode chegar perto de mim, tenho que tentar levantar sozinha porque daí eu grito, eu grito muito”, contou.
É incorreto afirmar que só quem trabalha com pesos ou movimentos repetitivos sofrerá da coluna. O ortopedista Elinton Bachmann alerta que quem fica em posições viciosas por longas horas, mesmo sentado, também pode desencadear doenças crônicas.
Segundo a fisioterapeuta Paula Giovanna, especializada em Reeducação Postural Global (RPG), muitas lesões podem ser evitadas com a correção da postura. A maior parte de seus atendimentos é de crianças a partir dos 10 anos e idosos. As crianças pelo fato de ficar muito tempo em aparelhos eletrônicos e os idosos pelo desgaste e sobrepeso na coluna.

Bachmann relata que dos 30 pacientes que atende, por dia em Vilhena, 20 apresentam dores na coluna. Segundo o ortopedista, o paciente sem tratamento tem seu quadro agravado com o tempo. “Começa a hérnia de disco. Antes era um nível da coluna que estava machucado, de repente são 2, 3 níveis. Aí já começa a dor na lombar, que pode vir com uma cirurgia, que é para melhorar a dor do paciente, mas ele não vai ganhar uma coluna nova”, explicou.
A professora Deise Rocha trabalha sentada por longas horas. Ela chegou a adaptar a sua sala para facilitar o deslocamento, após as crises na coluna. Deise começou a sentir fortes dores na coluna e formigamento nas pernas. Essas dores a paralisaram e ela precisou ficar afastada para repouso absoluto.
“Fui montar na moto e, ao apoiar a perna, não a senti. Parecia que tinha um buraco, quando senti que não era um buraco, perguntei ‘cadê minha perna?’”. As perdas dos movimentos ocorrem porque a dor compromete o desempenho de outros membros. Durante a consulta, a professora recebeu o diagnóstico de desvio de coluna. O médico indicou mudanças de hábitos como: subir escadas, trocar a pia por máquina de lavar-louça, tanquinho por máquina “faz tudo” e vassoura por aspirador de pó.
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RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS
As normas da segurança do trabalho são reguladas pelo Ministério do Trabalho, para evitar que o funcionário sofra acidentes ou adquira doenças no exercício da profissão. As empresas têm como responsabilidade atender as regras referentes às atividades profissionais.
Segundo o engenheiro de segurança do trabalho, John Mota, as empresas precisam trabalhar a prevenção, informar o trabalhador e proporcionar capacitação. “No processo laboral, devem fornecer equipamentos de segurança individuais e coletivos. Devem trabalhar a prevenção da saúde individual. Formas, postura, vacinas e doenças adquiridas neste processo de trabalho”, explicou.
De acordo com Mota, o Ministério do Trabalho é quem realiza a função de fiscalizar se as empresas cumprem as suas obrigações. O órgão, no entanto, não faz o processo de acompanhamento regular e cotidiano. Ele aparece quando a empresa recebe algum tipo de notificação que precisa ser verificada.
Essa fiscalização, a princípio, fica sob responsabilidade da própria empresa. Mota explica que o empregador não enxerga a estrutura necessária como investimento, mas como custo, implicando em muitos casos de negligência. “É interessante trabalhar a educação e a prevenção, podendo evitar acidentes e doenças. Isso gera um custo muito alto para o país, em termos de aposentadoria por invalidez e pensão por acidente de trabalho”, evidenciou.
Em Vilhena, há um centro especializado em saúde do trabalhador, o Cerest. O órgão tem o objetivo de promover ações de prevenção e proteção em relação à saúde dos trabalhadores da região. O Cerest trabalha em parceria com instituições como Ministério Público do Trabalho, Emater, Atenção Básica e Vigilância Sanitária. No estado de Rondônia, há apenas três centros especializados em saúde do trabalhador, localizados em Porto Velho, Cacoal e Vilhena.
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