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Espigão do Oeste: a terra escolhida pelos pomeranos

Pesquisa aponta que 60% dos moradores são pomeranos e cerca de 12 mil participam das festas tradicionais

por Elilson Fabiano, José Teixeira e Quennia Mendes

“Espigão do Oeste é a cidade mais pomerana da Amazônia. Eu não poderia ter escolhido lugar melhor pra viver”. É dessa maneira que Evaldino Keller, presidente da Associação Pomerana de Espigão do Oeste (Aspomer), descreve o local onde mora. Descendente de pomeranos, Keller aprendeu, desde criança, que é preciso preservar as tradições de seu povo.

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Portal pomerano na entrada de Espigão do Oeste. Foto: Elilson Fabiano
Portal pomerano na entrada de Espigão do Oeste. Foto: Elilson Fabiano

Na entrada da cidade, após uma placa de boas vindas, um portal já mostra sua particularidade. Construído em 2015, o portal pomerano custou praticamente meio milhão de reais. “É uma justa homenagem a um povo que ajudou a construir esta cidade”, disse o vereador Severino Shultz, autor do pedido de emenda para a obra.

De acordo com pesquisa do escritor Jorge Kuster Jacob, 60% dos moradores de Espigão do Oeste são descendentes de pomeranos que vieram do Espírito Santo no fim da década de 1960. Segundo o mais recente censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade, localizada há mais de 220 quilômetros de distância do município Vilhena, possui 32.385 habitantes.

Jorge Kuster lançou em 2011 o livro Cidades Irmãs Pomeranas: Vila Pavão (ES) e Espigão do Oeste. “Meu objetivo é que o livro auxilie os pomeranos a compreender seu processo histórico, sua identidade cultural e o processo de migração pelo mundo em busca de boas terras”, explicou o escritor. Foi justamente em busca de um solo fértil que Martino Tesch e a esposa Nilza Mund deixaram o Espirito Santo e vieram para Rondônia em 1969. “O povo pomerano sempre foi envolvido com a agricultura. Ouvi falar que aqui (Espigão do Oeste) as terras eram boas, então, eu vim”, contou Martino. Martino vendeu suas terras e viajou com sua família e amigos por mais de dez dias em um “pau de arara” até chegar a Rondônia.

“Eram 32 pessoas, entre crianças, adultos e idosos em cima de uma carroceria. A polícia de Minas Gerais queria que voltássemos porque o transporte era irregular, mas falamos que havíamos vendido tudo e só nos restava chegar ao nosso destino para tentar uma vida melhor”, lembrou Martino.

Doglismar Pagung era jovem quando deixou o Espírito Santo e conta que durante a viagem foram parados num posto da polícia e impedidos de seguir viagem. “Não me recordo em qual cidade, mas a gente foi parado por volta da hora do almoço. Ficamos lá, aquele monte de gente sem ter para onde ir. Quando caiu a noite, eu tive uma idéia. Olha só, dei laxante para todas as crianças que estavam lá, eram umas dez, eu acho. No outro dia, o posto da polícia estava todo cheio de fezes, um mal cheiro terrível. Os policiais não suportaram e mandaram a gente ir embora”, lembrou aos risos.

Famílias enfrentam atoleiros na Br-364 durante migração. Foto: Arquivo/Aspomer
Famílias enfrentam atoleiros na Br-364 durante migração. Foto: Arquivo/Aspomer

Mesmo quem encarou a viagem sabe bem que o processo de migração não foi fácil. O pai de Bruna Papung contraiu sarampo durante o trajeto e morreu pouco depois de chegar ao destino. “Depois da morte do meu pai, minha mãe descobriu que estava grávida. Foi muito sofrido pra ela, mas todo mundo ajudou. Fico triste por meu pai pagar com a vida o preço de tentar dar uma vida melhor para sua família”, contou emocionada. Com a ajuda de outras famílias, a mãe de Bruna conseguiu plantar café para ajudar na criação da filha. Atualmente as duas vivem da produção de hortaliças.

Um dos grandes problemas enfrentados pelos pomeranos em sua migração para Rondônia foi a ausência de uma política agrícola adequada à sua realidade de agricultor familiar. Desta forma, muitas famílias não conseguiram progredir e voltaram para o sudeste, enquanto outras migraram para o estado do Acre. Aqueles que ficaram em Espigão do Oeste plantaram café, arroz e feijão. Foi a partir dessa agricultura que o município começou a crescer.

POMERÂNIA E POMERANOS

Os pomeranos são alemães originados da Pomerânia e seus descendentes. A Província da Pomerânia surgiu em 1847 e ficava entre Alemanha e Polônia. Em 1945, após a II Guerra Mundial, a Província foi riscada definitivamente do mapa da Europa. Com a derrota do regime nazista, a Pomerânia Oriental foi entregue à Polônia, quando deixaram suas casas.

A descoberta do carvão mineral e consequentemente a valorização da terra tirou o espaço da agricultura tradicional, principal meio de sobrevivência dos pomeranos. Na Europa, havia muita propaganda a respeito das terras brasileiras.

Os primeiros pomeranos que virem para o Brasil embarcaram no porto de Hamburgo e viajaram entre seis e sete semanas em navios de vela ou a vapor até chegarem ao Espírito Santo, em 1859. Com a crise do café entre os anos de 1960 e 1980, muitos pomeranos migraram para Rondônia.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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