Pomeranos

Moradores mantêm tradição em atividades cotidianas

por Elilson Fabiano, José Teixeira e Quennia Mendes

Orlando Borchardt também veio ao município para viver da agricultura, mas há dez anos deixou o campo e trabalha como açougueiro. Orlando apresenta dois programas de rádio: “Raizes Pomeranas” das 6h às 8h, na rádio Sociedade Espigão, e o “Programa Pomerano” das 13h às 15h, na rádio comunitária Romiporã.

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Alberto Kridel tocando concertina com Orlando Borchardt. Foto: Elilson Fabiano
Alberto Kridel tocando concertina com Orlando Borchardt. Foto: Elilson Fabiano

Durante os programas, o radialista dedica parte do tempo para falar em pomerano. Segundo o etnolinguista Ismael Tressman, a língua pomerana pertence à família linguística Germânica Ocidental e a subfamília Baixo-Saxão das Terras Baixas. “A língua pomerana era falada na Pomerânia Ocidental e Pomerânia Oriental. A língua falada em Espigão é proveniente da Pomerânia Oriental, região quase totalmente agrícola na época da imigração”, explicou Tressman.

Manter viva a língua não é uma tarefa fácil. Em Espigão do Oeste, os idosos são quem mais falam pomerano. Alberto Kridel, de 90 anos, ajuda a língua a não morrer, principalmente porque ensinou o idioma às suas cinco filhas. “Quando elas eram pequenas elas gostavam de falar nossa língua, depois que foram para a escola deixaram de falar. Daqui a uns dias os mais velhos vão morrer e, se os novos não aprenderem, a língua acaba aqui”, contou pesaroso.

Máquina para produção de brote, pão tradicional da cultura pomerana. Foto: Elilson Fabiano
Máquina para produção de brote, pão tradicional da cultura pomerana. Foto: Elilson Fabiano

A Aspomer pretende construir um espaço destinado ao ensino da língua pomerana, não só para a comunidade, mas para todos os moradores do município que tenham interesse. Segundo o presidente da associação, a ideia é que o espaço sirva também para aulas de concertina, um instrumento típico das comunidades pomeranas.

“Eu admiro demais a força do povo pomerano. Eu era criança quando me mudei pra Espigão e mesmo não sendo pomerano quis aprender a língua deles. Em todo lugar que a gente ia tinha gente falando”, contou Reinaldo Moulaz, proprietário de uma agropecuária. A paixão pela cultura é tamanha que o empresário exige que os seus funcionários aprendam ao menos um pouco da língua pomerana. “Tenho muitos clientes pomeranos, alguns falam pouco o português. Então, meus funcionários precisam se comunicar bem com eles”, explicou.

Há seis anos, no último final de semana de julho, a comunidade se reúne numa festa chamada “PomerFest”. Em média, 12 mil pessoas participam do evento, inclusive visitantes de outras cidades e até de outros estados. Comidas e danças típicas são as atrações da festa. Nas apresentações de dança, as mulheres usam lenço branco e os homens chapéu de feltro.

Na culinária o destaque é para o “brote”, um pão feito de milho, que pode vir acompanhado de outros ingredientes, como banana, batata-doce ou mandioca. O brote não é comido só durante as festas, ele é prato principal no café da manhã dos pomeranos. Na verdade até de quem não é pomerano. Luiza Souza mora há um ano no município e antes nunca tinha ouvido falar dos pomeranos.

“Eu cheguei bem por essa época (maio) e pouco depois teve a festa da comunidade, fiquei encantada com eles. Tão simpáticos, prestativos me trataram tão bem. A festa foi linda. Tem um pão de milho que eles fazem que é uma delícia. Eu não sei fazer, mas minha vizinha sabe, às vezes eu compro os ingredientes e ela faz para mim”, disse Luiza.

A linguiça artesanal feita de carne bovina e suína também não pode ficar de fora. De tão famosa, a comunidade realiza a “Festa da Linguiça”, em sua 11° edição. “Pesquisei sobre os povos pomeranos em todo o Brasil e não tenho conhecimento de outro município no Norte do país ou em toda a Amazônia com tamanha identidade europeia ou germânica, ou ainda genuinamente pomerana com tantas manifestações tradicionais. Por isso, Espigão do Oeste é o município mais pomerano da Amazônia”, garante o estudioso Jorge Kuster.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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