Especialista propõe alternativas para aumento da produção de mel em Vilhena
por Elilson Pereira e Quennia Mendes
O processo produtivo do mel depende de alguns cuidados básicos para garantir uma boa colheita. Esses cuidados vão desde a escolha de onde montar o apiário até a fase de armazenagem do mel. O agrônomo e pesquisador da área apícola, Fernando Malaspina, propõe algumas alternativas que podem fomentar a produção de mel em Vilhena.
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MORCEGADA: O agrotóxico é apontado como uma das causas para a diminuição da produção de mel em Vilhena. Se o apiário fica muito próximo de plantações e o agrotóxico usado nessas lavouras atinge as colmeias, o que fazer para evitar a morte das abelhas?
Fernando Malaspina: Se o agrotóxico atingir as colmeias, as abelhas vão morrer. O apicultor deve contatar o proprietário ou responsável pela área, incluindo o órgão público encarregado do tema, para saber onde é permitido colocar as caixas de abelhas; assim, entende se o local é seguro para manter as colmeias. Com o pasto apícola devidamente formalizado, agricultores podem avisar quando houver a necessidade de aplicação de defensivo agrícola. O uso correto e responsável de defensivos agrícolas garante a eficácia dos produtos na proteção das culturas agrícolas, sem causar perda de abelhas e colmeias. O uso incorreto deve ser combatido porque configura um risco não só às abelhas, mas à segurança de pessoas e do meio ambiente.

MORCEGADA: Vilhena tinha um clima adequado para a produção de mel, contudo, isso vem se alterando ao longo dos anos. É possível adaptar as colmeias durante essas oscilações climáticas?
Malaspina: Quando estiver muito quente, o produtor deve escolher bem onde vai colocar as caixas de abelha. As colmeias devem estar sombreadas, com árvores ou coberturas, para evitar a elevação interna da temperatura e o desgaste das abelhas em buscar ventilação e grandes quantidades de água, em vez de buscar néctar e pólen. Caso isso não seja feito, pode-se ter grande mortandade de larvas e até o abandono da colmeia por parte das abelhas. O apicultor precisa disponibilizar fontes de água limpa e abundante na proximidade das colmeias. Na falta de alimento natural no campo, ou seja, as floradas das plantas, deve-se alimentar as colônias ou dividir o apiário em várias unidades menores, em locais diferentes da propriedade. Se estiver muito frio, evite instalar os apiários em pontos onde vente muito. Se a época fria for caracterizada por dias com pouca luminosidade e sol, evite locais expostos; porém, se o frio for associado a dias de céu limpo, sem nuvens e ventos, então o apiário deve ser localizado a céu aberto para receber a luminosidade e ajudar a aquecer a colmeias. As entradas das colmeias também devem ser voltadas para o lado contrário ao dos ventos prevalecentes na região, mesmo que sejam fracos. O apicultor também deve reduzir a entrada da colmeia para barrar os ventos. Assegure-se de que haja reservas de mel suficientes nas colmeias para os dias em que as abelhas não puderem ir a campo para buscar alimento. Na falta de mel, alimente as colônias com produtos adequados.
MORCEGADA: Quais os cuidados básicos durante o processo produtivo para garantir uma boa colheita?
Malaspina: Uma boa florada é fundamental porque é onde as abelhas retiram o pólen e o néctar para a produção do mel. Há plantas que produzem flores com elevada concentração de néctar, outras que produzem bastante pólen e outras ainda que fornecem igualmente pólen e néctar. O pasto apícola composto por monocultura deve ser evitado, por proporcionar alimento às abelhas durante uma única época do ano. É preciso que apiário esteja em um local com variedade de flores e plantas. Além disso, as abelhas podem não se adaptar com certas espécies florais, então, é necessário conhecer a preferência da abelha. Se estiver muito frio, evite instalar os apiários em pontos onde vente muito. Se a época fria for caracterizada por dias com pouca luminosidade e sol, evite locais expostos; porém, se o frio for associado a dias de céu limpo, sem nuvens e ventos, então o apiário deve ser localizado a céu aberto para receber a luminosidade e ajudar a aquecer a colmeias.
MORCEGADA: Como as técnicas de manejo devem ser aplicadas nos apiários?
Malaspina: A aplicação das técnicas varia de acordo com a época do ano. Mas algumas dicas são gerais: a quantidade de colmeias por apiário, por exemplo, é determinada pela flora apícola da região. As regiões do lavrado suportam em torno de 20 colmeias, já na mata pode se chegar a 50 colmeias ou mais. O apicultor deve aumentar o número de colmeias até perceber uma redução na produção por colmeia. Quando as colmeias estão muito fracas na época da baixa florada, elas devem ser unidas para que fiquem mais populosas. Desse modo, aumenta-se a população das famílias, o que resulta num maior número de abelhas disponíveis para a coleta do alimento. Se as abelhas de uma colmeia capturada tiverem sua rainha trocada por uma selecionada, elas podem mudar de comportamento. Logo começam a nascer as operárias filhas da rainha introduzida, que herdam a genética de sua mãe, incluindo o comportamento. As rainhas introduzidas deverão provir de criadores idôneos que fazem seleção para produção e resistência às doenças.
MORCEGADA: Quais são os investimentos necessários para o produtor que deseja aumentar a produção?
Malaspina: Não é uma regra, mas antes de qualquer ação, é importante que o apicultor faça parte de uma associação ou cooperativa. Essas organizações facilitam a compra de maquinários e o investimento em tecnologia. Para o funcionamento legal dessas cooperativas, elas precisam ter todos os equipamentos necessários, desde a pesagem dos favos até o estoque do mel. Quando o apicultor é um dos associados, ele investe menos porque outros associados também fazem seus investimentos que vão gerar benefícios a todos. Depois disso, a compra de implementos e investimentos em novas tecnologias vai depender da realidade de cada cooperativa baseada na quantidade de produção e na região.

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