INTOLERÂNCIA RELIGIOSA: religiões afro-brasileiras na mira do preconceito
por Ana Paula Seixas e Isabelle Alves
O Brasil registra a cada 15 horas uma denúncia de intolerância religiosa praticada por quem não aceita uma crença diferente da sua. De janeiro de 2015 a julho de 2017, o disque 100, canal de denúncia do Ministério dos Direitos Humanos, recebeu 1.486 queixas relacionadas a esse tipo de preconceito, segundo o Observatório do Terceiro Setor.
+ Religiões afro-brasileiras derivam de crenças de mais de 4 séculos
39% das denúncias, feitas no Brasil, entre 2011 e 2015, são de pessoas que foram alvos de discriminação por serem adeptas das religiões afro-brasileiras, segundo a Secretaria Especial de Direitos Humanos. Em Vilhena, integrantes de religiões afro-brasileiras afirmam que a discriminação ainda é muito forte.

Elimar Júnior, de 24 anos, faz parte da umbanda desde 2013. Como era cristão, quando contou para a sua mãe que mudaria de religião, vivenciou um dos primeiros atos de intolerância ao ser expulso de casa. “Ela falou que eu estava mexendo com o diabo e mandou que eu saísse de casa. Eu chorava muito porque nasci dela e pensava: será que o amor não transcendia o preconceito”, lembrou.
Elimar Júnior conta que a maior parte do preconceito veio de sua família.
Elimar diz sempre se deparar com olhares preconceituosos por onde passa, mas ignora e garante que, antes de entrar em um centro religioso, nada dava certo em sua vida. “Em 2013, tive uma experiência na umbanda, e eu aceitei ajuda; fui ao centro e incorporei pela primeira vez, foi quando descobri que estava no lugar certo”, contou.
Aos 12 anos, a mãe de santo Laurinda Dantas, de 61 anos, entrou para a umbanda. A escolha não agradou os pais, que eram evangélicos, e queriam que ela abandonasse a prática umbandista. “Eu me formei só, os guias foram me ensinando tudo que aprendi. Fui orientada por eles a levar a caridade e a cura para todas as pessoas, porém, me sentia oprimida em muitos lugares”, lembrou.
Laurinda também é adepta da quimbanda. Segundo ela, muitas pessoas acreditam que se trata de magia negra. Enquanto a umbanda busca caridade e o bem comum a todos que o procuram, a quimbanda procura cuidar da própria pessoa e dos seus caminhos, guiando e ensinando sobre os desafios da vida.

Uma umbandista, de 33 anos, que preferiu não se identificar por causa do preconceito, recorda que durante sua adolescência os professores nunca falavam sobre religiões de matrizes africanas. Ela disse que a falta de conhecimento das pessoas, sobre a umbanda, contribuiu para rejeição da religião.
“As pessoas consideram que a religião foi feita para fazer o mal. Elas não entendem e confundem. Por ter o sincretismo com a igreja católica, os santos são os mesmos, o que muda são os nomes”, explicou.
Umbandista relata intolerância religiosa na escola.

No estado de Rondônia, 2,82% das pessoas se declaram da umbanda e 2%, do candomblé, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/137). As duas religiões têm origens africanas. A umbanda é afro-brasileira, conhecida por integrar o catolicismo, espiritismo, religiões africanas e indígenas. O candomblé é uma religião africana antiga, trazida pelos escravos para o Brasil no período colonial. Ambas são monoteístas, ou seja, acreditam em um único Deus.
[metaslider id=682]
Excelente matéria.
Quero mais.
Vou divulgar na página do nosso neabi.
parabéns