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Religiões afro-brasileiras derivam de crenças de mais de 4 séculos

por Ana Paula Seixas e Isabelle Alves

A origem das religiões de matrizes africanas em território brasileiro acontece a partir da diáspora africana, um processo sociocultural de mudança forçada de ambiente. Há 400 anos, africanos de diferentes regiões vieram para o Brasil, transportados em navios negreiros. Com essa vinda, por conta das diversas etnias, chegaram também os costumes e as culturas. De forma omissa, as religiões de matrizes africanas foram integradas ao país.

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Bandeira de abolição da escravatura no centro de umbanda. Foto: Isabelle Alves
Bandeira de abolição da escravatura no centro de umbanda. Foto: Isabelle Alves

Os países que tiveram mais tráfico de pessoas para serem escravizadas no Brasil foram Angola, República do Congo e República Democrática do Congo. Os escravos eram mantidos aprisionados em senzalas e proibidos de manter suas culturas, etnias e religiões. Eles eram obrigados pelos senhores de engenho a seguirem a religião predominante trazida pelos europeus, o cristianismo. Começava então, um processo chamado sincretismo religioso.

Fonte: Gabryel Biavatti
Fonte: Gabryel Biavatti

O sincretismo religioso mescla doutrinas distintas em elementos que as tornem semelhantes. Com a imposição da religião cristã, houve um processo de influência da igreja católica sob essas religiões de matrizes africanas, principalmente o candomblé e a umbanda. Elas tentavam esconder os cultos aos orixás usando as imagens dos santos da igreja católica.

CANDOMBLÉ

Faixada do centro de candomblé Nação Ketu. Foto: Ana Paula Seixas
Faixada do centro de candomblé Nação Ketu. Foto: Ana Paula Seixas

O candomblé fica em vigésimo lugar no ranking das 25 maiores religiões do Brasil, com mais de 160 mil adeptos, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do culto a vários orixás, o candomblé é uma religião monoteísta de origem africana. Os praticantes acreditam em um só Deus supremo chamado Olodumare, mais conhecido no Brasil como Olorum.

Os ritos tradicionais, geralmente, acontecem em centros, casas ou terreiros. Escolhido por um orixá, a mãe ou pai de santo é quem conduz a cerimônia, como um líder religioso. No candomblé, não há separação do mundo espiritual com o mundo material, os integrantes cultuam orixás que são divindades africanas e representam as forças da natureza. As principais entidades cultuadas no Brasil são: Exu, Ogum, Oxóssi, Xangô, Obá, Logum-Edê, Nanã, Obaluaê (Omulu), Oxumaré, Iemanjá, Oxalá, Ibeji (Erês).

UMBANDA

Objetos sagrados da Umbanda. Fonte: Isabelle Alves
Objetos sagrados da Umbanda. Fonte: Isabelle Alves

A umbanda é a décima quarta maior religião no Brasil, com mais de 400 mil praticantes, de acordo com o IBGE. A origem da religião é muito debatida; mas, no início do século XX, já havia registros dos escravos que faziam cultos aos orixás.

Diferente do candomblé em que os praticantes incorporam somente entidades, na umbanda há a incorporação dos espíritos ancestrais, como os pretos-velhos e os caboclos. Existe ainda a história de Zélio Fernandino de Moraes, que teria fundado umbanda em 1908 após incorporar o caboclo das 7 encruzilhadas. Zélio afirmava que o caboclo o curou de uma grave enfermidade e logo depois lhe passou a mensagem de fundação da religião. Essas são as duas versões sobre a origem da Umbanda. Antes de Zélio, não há relatos ou históricos da existência desses centros.

QUIMBANDA

A origem do nome quimbanda, ou kimbanda, veio da língua angolana umbundo, língua bantu falada pelos povos ovibundos. A religião surgiu em 1960 no estado do Rio Grande do Sul com diversas vertentes, como: quimbanda luciferiana, quimbanda xambá, quimbanda mossorubi (mosso rubi), entre outras independentes, que realizam cura através de elementos naturais, feitiços e magias. Ela é diferente da quimbanda da Angola e da umbanda, pois não cultua os orixás, mas as linhas de exus e os ancestrais de origem africanas.

PRESENÇA DO ATABAQUE

Atabaque tocado pelos ogãs na cerimônia de umbanda. Foto: Ana Paula Seixas
Atabaque tocado pelos ogãs na cerimônia de umbanda. Foto: Ana Paula Seixas

O atabaque é um instrumento de percussão que entra na classe dos tambores, mas não se sabe ao certo a sua origem. O instrumento veio para o Brasil com os africanos no período da escravatura. Os atabaques são considerados sagrados para as religiões afro-brasileiras, como candomblé, umbanda e quimbanda.

Ele é usado para os rituais que ocorrem dentro dos terreiros. Na umbanda, por exemplo, somente os ogãs podem tocar o instrumento para convocar os orixás e os guias. No candomblé, só os ogãs do sexo masculino podem tocar o atabaque. Existem três tipos de atabaque: rum, que é o maior e possui um tom mais grave para conduzir o ritmo; rumpi, um pouco menor e acompanha o ritmo do rum; e lê, geralmente tocado pelo ogã aprendiz.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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