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De aprendiz a professor: jovem enfrentou preconceitos para aprender e ensinar ballet

por José Teixeira e Petter Vargas

Com movimentos delicados, serenidade no olhar e muita superação dentro do peito. Tudo isso ao som de uma música suave. Foi assim que encontramos Ediney Zanchin, de 26 anos, na sala espelhada da sua escola de ballet, um espaço cheio de significados para o jovem dançarino. Em meio aos olhos atentos dos alunos, ele encontra sentido para tudo que precisou enfrentar até chegar a essa fase da sua vida.

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Aos 26 anos, Ediney se apresentou em dezenas de espetáculos. Foto: Arquivo pessoal.
Aos 26 anos, Ediney se apresentou em dezenas de espetáculos. Foto: Arquivo pessoal.

Ediney é professor de ballet, mas aos 14 anos era o primeiro menino de Vilhena que deixava as atividades ditas masculinas para aprender ballet, entre dezenas de meninas. Apaixonado pela dança precisou desde muito cedo se acostumar com alguns olhares curiosos e outros tantos carregados, visivelmente, de preconceito. “É raro ver meninos fazendo ballet e, na época, por eu ser o único na cidade, o bullying era muito pesado. Por um lado, me afetava emocionalmente, por outro, me fortalecia”, lembrou.

E fortaleceu. Dia após dia, o menino se dedica cada vez mais. A professora, exigente como toda boa instrutora de ballet, nunca deixou de cobrar do garoto gestos precisos, posições firmes e comprometimento com a dança. Ediney precisava mostrar que o sonho de dançar ballet era tão possível para ele quanto para qualquer menina.

Muita gente duvidava da capacidade do pequeno aprendiz, mas recebia aceitação e incentivo para continuar das pessoas mais próximas. “Sempre tive o apoio da minha família e, para mim, não precisava de mais nada. Era tudo o que eu precisava para me sentir forte”, contou.

Os anos passaram e Ediney continuou com a dança. Os julgamentos e os olhares descrentes persistiam, mas já não o assombrava. Quando concluiu as aulas, sentiu como se estivesse no último estágio de uma metamorfose. Já não havia mais uma lagarta, era uma borboleta com longas asas e pronta para o voo.

Mas voar não foi uma missão fácil. Ventos fortes sopraram quando, o agora jovem, quis subir mais alto. De aprendiz, decidiu que passaria a professor. A escolha foi suficiente para reviver parte de todo o preconceito sentido na adolescência, quando começou a dançar.

Ediney queria ensinar tudo o que havia aprendido. Queria transmitir para outros corpos o mesmo amor que sentia pelo ballet. Mas lá estava, outra vez, a desconfiança nos olhos das pessoas: de um homem dançando ballet a um homem ensinando meninas a dançar ballet.

“Foi difícil para os pais trazerem suas filhas até a minha escola. Teve uma barreira chamada preconceito. Hoje está começando a mudar. Tenho várias turmas, ensino ballet para crianças, adolescentes e jovens”, garantiu.

Ediney acredita que sua trajetória no ballet é a prova que nunca se pode deixar que digam quem você é, onde você pode ir ou estar. O que queremos conquistar não se limita ao nosso gênero. Se você quer, se não fere o outro, se te faz feliz, então faça. O Ediney fez.

Ediney ensina ballet para crianças e jovens. Foto: Arquivo pessoal
Ediney ensina ballet para crianças e jovens. Foto: Arquivo pessoal

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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