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NEGÓCIO E MEIO AMBIENTE: porto-velhenses sofrem por causa das queimadas

por Davi Pinheiro e Kyara Negretti

Porto Velho figurou entre as cidades que mais queimaram no Brasil. Em 2022, esta estatística foi extremamente crítica, com 243.887 hectares devastados, correspondente a 225 mil campos de futebol. A capital de Rondônia ficou em 3° lugar como a cidade que mais queimou no país, e no topo do ranking como a capital mais inflamável, segundo o Map Biomas Brasil, site de mapeamento da cobertura terrestre.

Considerando os nove primeiros meses de 2023, Porto Velho aparece em 4° lugar entre as cidades com mais focos de queimadas. Até o momento, foram registrados mais de 1.500 focos via satélite, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As consequências são inúmeras, além de afetar a saúde da população e o meio ambiente, as queimadas também podem atingem os negócios.

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O dono de uma granja na capital relata os cuidados que são tomados para evitar possíveis danos por causa das queimadas. Limpar o terreno da propriedade é uma das práticas adotadas. “Muda nossa rotina, temos que ser muito mais cuidadosos com a área perto dos galpões onde os animais ficam. O mato tem que estar sempre bem roçado para evitar que o fogo se espalhe e afete o granjeiro, porque aí o prejuízo é grande”, comenta Idevaldo Dorazio.

As queimadas também geram consequências para a agricultura. A fumaça das queimadas diminui a qualidade do ar, afetando não apenas seres humanos, como plantas e animais. É por isso que algumas outras medidas têm que ser tomadas por produtores rurais para evitar prejuízos que podem ser causados pelo alastramento das queimadas. O prejuízo causado pelas queimadas à agricultura brasileira chega a bilhões de reais anualmente, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Sentimos os impactos das queimadas todos os dias e as plantas também sentem, especialmente as hortaliças, que são mais sensíveis. Por isso temos que aumentar a quantidade de água, se antes regávamos 1, 2 vezes ao dia, nessa época do ano temos que aumentar esse número. Isso resulta em um gasto maior de energia, pois temos que ligar a bomba mais vezes”, explica Laércio Cavalcante Filho, engenheiro florestal que faz parte do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), dando assistência de agroecologia para pequenos agricultores.

A alta das queimadas está relacionado também à negligência na fiscalização destes problemas. “Nos últimos quatros anos, as queimadas foram muito intensas, porque, na minha concepção, houve um afrouxamento da política de fiscalização e monitoramento o que favoreceu essa tal expansão”, afirma o doutor e professor de Geografia da UNIR, Adnilson de Almeida.

As queimadas são um problema ambiental grave no Brasil, causando impactos significativos na biodiversidade, no clima e na saúde pública. As causas desta prática são diversas e podem ser divididas em duas categorias: naturais e induzidas, segundo o engenheiro florestal, Sebastião Freitas. As naturais acontecem em decorrência da própria natureza, já a segunda é causada por humanos, seja intencionalmente ou acidentalmente. “No meu ponto de vista, falta muito trabalhar o pequeno produtor, que ainda tem essa cultura de queimar todo ano”, diz Freitas.

Em Rondônia e Porto Velho, as queimadas estão intrinsecamente ligadas aos crimes de extrativismo. Devido à necessidade de queimar a terra e torná-la infrutífera, os infratores queimam até não restar muito. Na maioria das vezes, essa ação é motivada pela criação de campos de pastagem, o que leva à extinção de toda a composição arbórea naquele local, tornando necessário que o espaço seja queimado recorrentemente.

Foco de incêndio na floresta dentro da reserva extrativista Jaci Paraná, em Porto Velho. Fonte: Avener Prado

COMBATE ÀS CHAMAS: MEDIDAS PREVENTIVAS

A Amazônia é o bioma com maior número de queimadas desde o inícios dos registros do INPE. Há três fatores principais que contribuem para isso: clima, desmatamento e extensão territorial. “Isso ocorre devido ao desmatamento ilegal e queimadas de áreas florestais para criação de gado e cultivo, ao tamanho do bioma, uma vez que a extensão dificulta a fiscalização e ao clima da região Norte, caracterizado por períodos de seca, que cria condições propícias para o surgimento e propagação de incêndios florestais”, explica o engenheiro florestal, Sebastião Freitas.

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEDAM) revela que já estão em vigor medidas de prevenção e combate às queimadas, como vigilância e controle dos focos de incêndio. Ao ser questionado sobre a alta de queimadas no ano de 2022, o motivo seria o grande índice de desmatamento aliado ao ano eleitoral, para o coordenador de Geociências da Secretaria, Guilherme Vilela.

Atualmente nós combatemos as queimadas por meio de fiscalização. Realizamos o monitoramento das queimadas por meio de satélites e sites de supervisão, e encaminhamos a localização dos focos de queimada para os órgãos competentes tomarem as medidas cabíveis”, diz Vilela.

Embora as queimadas sejam geralmente consideradas criminosas, existe a prática legal, conhecida como queimada controlada. Isso envolve o uso controlado do fogo em atividades agrícolas, pastoris, florestais e para fins de pesquisa científica em áreas delimitadas, com regulamentações específicas. Essa abordagem é raramente adotada, já que muitos optam por queimar ilegalmente, prejudicando o meio ambiente e a sociedade. Para realizar a queimada legal, é necessário solicitá-la no site da SEDAM, para verificar se o uso do fogo é executável ou não.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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