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Terras e povos indígenas são afetados pelas queimadas em Rondônia

Por Davi Rodrigues e Kyara Negretti

As queimadas têm sido uma preocupação crescente nas últimas décadas em todo o Brasil, mas seu impacto nas terras indígenas de Rondônia é especialmente alarmante. De 2019 a 2023, a região testemunhou um aumento expressivo no número de incêndios florestais, gerando não apenas impactos negativos para o meio ambiente e para a biodiversidade única da Amazônia, mas também para a  herança cultural e saúde das comunidades indígenas que habitam essas áreas.

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Os meses de julho, agosto e setembro são os períodos mais complicados para a população indígena, pois o índice de queimadas é alarmante devido ao tempo seco. Este período é o momento mais delicado para os povos indígenas, que precisam da proteção redobrada durante o aumento das temperaturas na região Amazônica, porém não é o que acontece.

Nos últimos quatro anos, o apoio foi quase nulo. Os indígenas formaram grupos de guardiões da floresta para protegerem seus territórios,” declarou Neidinha Suruí, indígena e líder da Kanindé, Associação de Defesa Etnoambiental.

Outros indígenas também reclamaram do descaso enfrentado e dos meios que buscam para tentar combater estes problemas. “Creio que nestes últimos quatros anos houve muitas queimadas no nosso território. Com a ajuda de vários parceiros, como a Kanindé, nossa associação dos Uru-Eu-Wau-Wau, tivemos a capacidade de monitorar nossos territórios, por meio dos nossos brigadistas que realizavam o trabalho de observar o fogo em torno ou dentro das nossas terras”, explicou Bitaté-Uru-Eu-Wau-Wau, indígena e ativista rondoniense.

A diferença é expressiva em relação aos meses anteriores, pois a seca cria condições propícias para a propagação do fogo. Confira abaixo dados sobre focos de queimadas nas terras indígenas do estado, de janeiro até 21 de setembro de 2023, a última data de atualização.

A relação entre os povos e a natureza é profunda. As florestas, os animais e os rios constituem o ambiente essencial para os indígenas. A destruição causada pela queima ou desmatamento representa uma invasão em seu lar, que possuem uma ligação única com o ambiente, totalmente diferente  da relação típica da população urbana com suas casas e comunidades.

“O indígena entende a floresta, a natureza, como um conjunto sociável. Então, a perda de uma árvore, não é apenas uma unidade, mas sim um impacto que engloba um contexto geral. Nisso, entram questões que ligam a biodiversidade,  a saúde, a cultura, sendo uma compreensão de mundo intrínseca aos indígenas”, explicou Adnilson de Almeida, doutor em Geografia e professor da UNIR.

INDÍGENAS BUSCAM MEIOS DE COMBATER AS QUEIMADAS

Em relação ao investimento na segurança dessas terras, o apoio internacional tem sido o mais expressivo no financiamento para os povos indígenas e associações não governamentais que lutam pela causa ambiental. O governo brasileiro tem deixado a desejar no cuidado e no investimento para a preservação dessas comunidades. “Deveria haver um balanceamento entre apoio internacional e do governo, mas infelizmente não é o que acontece”, comenta Israel Vale, coordenador de projetos da Kanindé.

As campanhas de prevenção são importantes, mas para existir uma mudança real ela deve ser feita aliada ao combate. “Porto Velho tinha uma brigada de incêndio. A prefeitura tinha há uns quatro anos. Você via o caminhão pipa e os brigadistas atuando por aí, mas acabou. Não tem mais e ninguém sabe porque acabou e é o que falta né.”, comenta Israel.

A Kanindé tem projetos com foco em combater essas queimadas em terras indígenas. Eles disponibilizam equipamentos profissionais e treinamentos para voluntários das comunidades, formando brigadas para combate ao fogo em áreas em que os órgãos do governo são mais ausentes, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 

A gente vem atuando muito aqui dentro do estado, na formação de brigadas comunitárias, é algo inovador para Rondônia. Tem dado super certo, já temos quatro brigadas comunitárias formadas, uma delas inclusive se tornou oficial. A brigada dos Paiter Suruí é a primeira brigada comunitária indígena oficial de Rondônia. No futuro próximo queremos que toda terra indígena tenha sua brigada oficial, mantida pelo governo”, diz o coordenador.

Brigadistas combatem chamas em terra indígena. Fonte: Acervo de fotos dos Paiter Suruí

O líder da brigada comunitária dos Paiter Suruí, Luan Suruí, detalhou como o trabalho passa pelo combate às queimadas, mas também pelo reflorestamento após a devastação. “Hoje somos uma equipe de 15 pessoas e atuamos na área indígena Sete de Setembro. Nosso trabalho está diretamente ligado ao monitoramento, no qual acompanhamos e conseguimos impedir que virem incêndios florestais. Além disso, também trabalhamos com o reflorestamento, com uso de mudas nas áreas degradadas e queimadas, de forma que gere uma educação ambiental e a preservação do meio ambiente em volta”, explica Luan.

Essas formas de combate são uma resistência indígena e meios encontrados como método para proteção de suas terras. Mas os números crescentes de queimadas revelam que a proteção indígena coletiva não é suficiente para impedir estes problemas. Por isso, é necessário haver o apoio incondicional por parte dos governos e órgãos competentes, a fim de que a preservação das terras indígenas resista a todos esses crimes ambientais enfrentados diariamente por essas comunidades.

Queimadas destroem terra indígena no Acre. Fonte: Denisa Starbova | CIMI
Queimadas destroem terra indígena no Acre. Fonte: Denisa Starbova | CIMI

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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