111 DESAFIOS GEOGRÁFICOS: Rondônia obtém destaque nacional em startups – MORCEGADA
DestaqueEconomiaInovaçãoStartup

DESAFIOS GEOGRÁFICOS: Rondônia obtém destaque nacional em startups

Região Norte corresponde a apenas 5% do ecossistema brasileiro, enquanto Sudeste lidera com 53, 2%

por Aline Araújo e Lídia Aciole | Orientação: Larissa Zuim

Brasil tem a melhor posição da América Latina no ranking de ecossistema de inovação, ocupando o 26º lugar na lista geral dos países. Os dados são do Startup Blink, centro de pesquisa que monitora  o ecossistema de inovação ao redor do mundo. Apesar do lugar de destaque, a desigualdade social e econômica entre as regiões brasileiras torna a realidade no âmbito da inovação e tecnologia árdua para algumas regiões.

A região Norte corresponde a apenas 5% do ecossistema brasileiro, enquanto Sudeste lidera com 53, 2%, de acordo com o mapa do Ecossistema Brasileiro de Startup. Ainda assim, a comunidade de startups do estado de  Rondônia, a Tambaqui Valley, foi vencedora na maior premiação de ecossistemas do Brasil, a Startup Awards. O grupo venceu primeiro como comunidade revelação, em 2020, e, no ano seguinte, foi eleita a comunidade do ano.

+ MICROEMPREENDEDORISMO EM RONDÔNIA: alta de empregos mascara problemas com precarização
+ Desafios do mercado de trabalho levam mulheres para o microempreendedorismo em Porto Velho

A distância geográfica da parte central do Brasil é um desafio que o estado de Rondônia conseguiu superar, de acordo com Rangel Miranda, analista de inovação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). “Os anos de 2020 e 2021 foram uns dos que mais participamos de eventos nacionais, conseguimos elevar a Tambaqui Valley e tornar o estado de Rondônia referência na região Norte”, disse. 

Foto: SEBRAE Rondônia participa do Web Summit Rio, o maior evento de tecnologia e inovação do mundo. Fonte: Arquivo pessoal
Foto: SEBRAE Rondônia participa do Web Summit Rio, o maior evento de tecnologia e inovação do mundo. Fonte: Arquivo pessoal

EM 6 ANOS, RONDÔNIA MUDA CENÁRIO E SE TORNA PROMISSOR

O SEBRAE promoveu um encontro de gestores em Brasília, no ano de 2016. Durante a reunião, foram apresentadas diversas ações que estavam acontecendo no país através dos programas de aceleração de empresas voltadas à inovação. Na ocasião, Rondônia era o único sem projeção, e todos os estados tiveram a oportunidade de apresentar um planejamento de ações para os próximos anos do setor. Quando foi a vez do estado, Rangel Miranda apenas lançou uma meta: “Meu desafio seria colocar Rondônia no mapa e transformar essa realidade; prometi que na próxima reunião, seríamos um caso de sucesso”.

A Startup Day foi lançada naquele ano. A ação conjunta movimenta todo o Brasil e foi o primeiro evento realizado pelo SEBRAE para startups no estado, com a participação de aproximadamente 350 pessoas. Logo depois, foi realizado o Demo Day, o dia de demonstração, onde as startups apresentaram seus negócios e soluções para possíveis investidores desses primeiros eventos. Tudo era novidade, inclusive a palavra startup.

Rangel conta sorrindo que durante o evento um senhor perguntou: “Você pode me explicar como é esse tal de stand-up? Foi marcante e emblemático, pois foi um pontapé para o desenvolvimento do ecossistema em Rondônia”. Uma startup é uma organização temporária em busca de um modelo de um negócio, escalável, recorrente e lucrativo, segundo Alexandre Carvalho. Esse modelo também tem como características principais inovação e flexibilidade.

Tambaqui Valley surgiu em 2018, através de um grupo de WhatsApp que o Sebrae utilizava para atender as startups com potencial empreendedor. Esse “ecossistema” representa a união de diversas instituições, como empreendedores, incubadoras, investidores e universidades. O nome é inspirado no Vale do Silício, um dos maiores centros de inovação do mundo, localizado na Califórnia. Já Tambaqui é um peixe, considerado um dos maiores símbolos gastronômicos e culturais do estado de Rondônia. 

TAMBAQUI VALLEY E SUAS AÇÕES

As ações começaram em 2018, mas tiveram de ser adaptadas em 2020 por causa a pandemia, com as interações sendo on-line. A Tambaqui Valley aumentou ainda mais sua rede de contatos e ampliou suas ações no âmbito nacional. “Fizemos muitos projetos na pandemia, inclusive, a primeira aceleração de startups foi on-line”, comentou Rangel. 

Em 2020, a Tambaqui Valley subiu para o top três na categoria revelação na Startup Awards. Na região Norte, ninguém havia ganhado em nenhuma categoria desde a criação do prêmio. “Quando saiu o resultado, que a comunidade tinha sido a vencedora, desabei chorando e várias pessoas de outros estados começaram a ligar. Essa premiação mostrou que estavam no caminho certo”, contou.

Depois da premiação, as pessoas começaram a enxergar o trabalho da comunidade e isso deu mais força para os projetos dos anos seguintes. “2020 e 2021 foram os anos que mais fizemos maratonas de inovação, sendo 15 ao todo. Entramos em contato e trabalhamos com todos os institutos federais da região norte e aos poucos os negócios foram vindo. Em 2021, fomos indicados novamente, mas na categoria de comunidade do ano, e vencemos”, revelou contente.

Em 2022, o Sebrae promoveu novamente o encontro gestores a nível nacional, mas dessa vez Rondônia foi apresentado como caso de sucesso. “Quase ninguém lembrava da situação em 2016, quando lancei o desafio de colocar o nosso estado no mapa do ecossistema brasileiro. Mas eu também nunca imaginei que em seis anos seríamos apresentados como caso de sucesso”, disse o representante do SEBRAE.

Rondônia tem se transformado em um estado promissor, por meio das ações realizadas nos últimos anos. Ela é destaque em programas nacionais de startups e recebe muitos convites para eventos. A lista lançada pela revista Empresas & Grandes Negócios em 2022 ponta a Fiscontech, uma startup rondoniense, como uma das 100 mais promissoras do ecossistema brasileiro. 

STARTUPS DENTRO DO IFRO 

O campo de inovação do estado evoluiu e se tornou um terreno fértil. Esse crescimento só acontece com a união de várias instituições. O Instituto Federal de Rondônia compreendeu a necessidade do empreendedorismo inovador e se juntou com outras instituições para formar o ecossistema rondoniense, de acordo com a Pró-Reitora de Extensão de Projetos de Extensão do IFRO, Maria Goreth Reis.

O instituto promoveu a capacitação dos servidores voltados para startups fora do estado. Nesse período, começou o planejamento da rede de incubadoras, que funciona como as incubadoras de bebês recém-nascidos, ajudando projetos inovadores ou empresas nascentes até que tenham condições de se lançar no mercado e crescerem de forma saudável. 

O IFRO fez o processo de capacitação de incubadoras com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC). Essa associação possui uma metodologia de capacitação de servidores e dos projetos de incubadoras implantados, inicialmente em Porto Velho. Durante esses projetos, o governo do estado trouxe a Campus Party para Rondônia em 2018, sendo o primeiro estado da região Norte a receber o evento. “Fomos o primeiro instituto a levar alunos para a Campus Party. Viramos destaque. Sempre levamos caravanas para os eventos e os nossos alunos sempre apresentam projetos”, revelou a Pró-Reitora.

Foto: Alunos do IFRO, em 2018, no primeiro Campus Party da sediado na região Norte. Fonte: Arquivo pessoal
Foto: Alunos do IFRO, em 2018, no primeiro Campus Party da sediado na região Norte. Fonte: Arquivo pessoal

O IFRO tem promovido ações voltadas ao desenvolvimento de startups, como a Startup Weekend, Startup Weekend Agrotech e Startup Weekend Women. Apesar da carga horária dos alunos do instituto ser muito intensa, muitos conseguem se engajar em projetos voltados à tecnologia e inovação. “Os alunos que se engajam nesses eventos são os que mais se destacam e conseguem grandes oportunidades, além disso, percebemos que eles são mais procurados para estágios e para eventos internacionais”, explica Maria Goreth Reis.

Uma das alunas do curso superior de Agronegócio do IFRO, Elaine de Arruda, participou do I Hackathon Inovatech, em Ji-Paraná, um projeto voltado à cadeia produtiva do leite. A estudante apresentou uma ideia inovadora juntamente com uma equipe formada durante o evento. “Formei uma equipe com uma aluna do meu curso e outras duas de Zootecnia. Nossa ideia foi selecionada e ganhamos em terceiro lugar”, afirmou.

Uma das suas motivações para participar do I Hackathon Inovatech foi a busca por conhecimento e experiências práticas em eventos de inovação, além disso, “era uma oportunidade de fazer novas conexões”. Elaine incentiva todos os alunos a participarem, independente do curso que estejam fazendo. “Às vezes, uma ideia, apesar de parecer simples, pode se transformar em algo inovador, que apenas precise ser aperfeiçoada ao longo do processo”, explicou a estudante.

Foto: I Hackathon Inovatech aconteceu em Ji-Paraná. Fonte: Arquivo pessoal
Foto: I Hackathon Inovatech aconteceu em Ji-Paraná. Fonte: Arquivo pessoal

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ir para o conteúdo